quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Flavya Mutran recria memórias no Arquivo 2.0


A Coordenação de Cinema, Vídeo e Fotografia da Secretaria da Cultura de Porto Alegre inaugura no dia 28 de setembro, na Galeria Lunara da Usina do Gasômetro, a exposição ARQUIVO 2.0 – DES_MEMÓRIAS FOTÓGRÁFICAS, da fotógrafa paraense Flavya Mutran.

A menina que corre da guerra no Vietnã, a criança africana à espreita de um carcará ou um homem sozinho enfrentando uma fila de tanques de guerra. Poucas pessoas não reconheceriam algumas dessas fotografias que já fazem parte da memória coletiva das sociedades contemporâneas. Porém, imagine tudo isso sem a figura humana. O que resta? O joguete faz parte da exposição de Flavya Mutran, que pode ser visitada até o dia 30 de outubro na Galeria Lunara, entre terças e domingos.

A mostra tem curadoria do artista paraense Armando Queiroz e trata do poder de ficcionalização e ressignificação de fotografias históricas disponíveis na web, explorando diferentes suportes pelos quais a fotografia foi disseminando seus mais diferentes gêneros, desde a fotografia documental, publicitária, artística e mesmo a vernacular. Pela primeira vez em Porto Alegre, a mostra foi vencedora do Prêmio de Artes Visuais Banco da Amazônia 2016, tendo sido exposta anteriormente em Belém/PA, em maio/junho deste ano, no Espaço Cultural do Banco da Amazônia.

O trabalho é resultado parcial da pesquisa de doutorado em Artes Visuais * [1]de Mutran e se divide em duas séries – RASTER e DELETE.use –, que abordam questões ligadas à realidade e ficção, matéria e memória, autoria e anonimato, apropriação e compartilhamento de arquivos na web. São cerca de 100 imagens apresentadas em suportes como placas de alumínio para offset, vídeos, projeções e impressões em papel de tamanhos variados. Os trabalhos provocam o espectador, que precisa vasculhar o próprio repertório imagético atrás das lembranças fixadas a partir da imprensa, mídia, moda e o tão atual compartilhamento de imagens via web.
Em DELETE.use, a fotógrafa seleciona imagens conhecidas como parte das narrativas modernas e, simplesmente, apaga, ou melhor, deleta a figura humana, como uma estratégia de reocupação virtual da fotografia enquanto espaço social “Não são fotografias, e sim, espaços de encontro. A série DELETE.use autodefine o duplo risco do apagamento e (re)uso de algo, que neste caso não exclui, e sim sugere novas conexões, inclusões”, diz Flavya em seu texto de apresentação.

A reflexão sobre o conceito de des_memória fica evidente em RASTER, em que a fotógrafa exibe as transcrições visuais e sonoras dos códigos de imagens também coletivamente muito conhecidas, explorando a plasticidade das versões alfanuméricas da linguagem de computadores. Nesta, a fotógrafa apresenta 12 clássicos da fotografia universal, porém em suas versões algorítmicas. “Embora possa parecer uma tentativa vã de mensurar o que não tem medida, me ajuda a lidar com o fato de que nem mil palavras, sequer imagens, são capazes de valer mais que o tempo ou o espaço da memória”, afirma.

Além de ponderar sobre o papel cultural da fotografia, a artista também busca proporcionar uma nova experiência do público com as imagens clássicas, já que apesar de ser uma pesquisa sobre o universo fotográfico, o contato não ocorre com fotografias formalmente expostas na galeria, e sim vídeos, objetos, livros e instalações, que resultaram na produção do livro de mesmo título, que será lançado no dia da abertura para convidados.

A artista vai participar de dois momentos de bate-papo com as pessoas interessadas em trocar experiências sobre as práticas e reflexões relacionadas à fotografia, arquivo, memória-esquecimento, coautorias e relações entre a imagem e palavra oral ou escrita. Nos dia 8 e 29 de outubro, dois sábados, Flavya Mutran realizará uma atividade com interessados em registrar suas lembranças e esquecimentos diante das imagens da série DELETE.use, na Galeria Lunara, das 15h às 17h. As atividades são públicas e gratuitas.

Saiba mais sobre estes e outros trabalhos no endereço: www.arquivodoispontozero.com.br



SERVIÇO

Arquivo 2.0 – DES_MEMÓRIAS FOTOGRÁFICAS
de Flavya Mutran

Curadoria: Armando Queiroz
Abertura: 28 de setembro – quarta-feira – às 19h
Período expositivo: 29 de setembro a 30 de outubro de 2016
Local: Galeria LUNARA
Endereço: 5º andar, Usina do Gasômetro
Av. Pres. João Goulart, 551 - Centro, Porto Alegre/RS                     
CEP:90.010-120
Técnicas:  Instalação, vídeos e objetos.
Horários: Segunda a sexta-feira, das 10h às 21h


FLAVYA MUTRAN

É paraense e atua no campo da arte e comunicação desde 1989. Mestre em Artes Visuais pelo PPGAVI do Instituto de Artes da UFRGS (Porto Alegre/RS), ARQUIVO 2.0 é sua pesquisa de doutorado com estágio no Programa de Doutorado Sanduíche no Exterior na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa/PT (PDSE, BOLSISTA CAPES), com ênfase em compartilhamentos de fotografias via web.
Participa de exposições no Brasil e no exterior desde os anos 1990, tendo recebido prêmios e com obras nos acervos da Coleção Pirelli/MASP (São Paulo/SP); na Coleção Joaquim Paiva em comodato no MAM-RJ (Rio de Janeiro/RJ); na coleção de Fotografia Contemporânea Paraense do Museu de Arte Contemporânea do Pará (Belém/PA); no MARGS - Museu de Arte do Rio Grande do Sul e MAC-RS (Porto Alegre/RS).
Sua primeira individual, ‘PALIMPSESTOS, de 1996, foi exposta em várias capitais brasileiras (Belém/PA; Macapá/AP; Fortaleza/CE; Aracajú/SE; Natal/RN; Cuiabá/MT; entre outras), tendo trabalhos da série sido expostos na Mostra “Antarctica Artes com a Folha, em São Paulo/SP (1996), publicados e indicados em 1998 e 1999, respectivamente para o Prêmio Nacional de Fotografia da FUNARTE, do Rio de Janeiro/RJ.
Em 2010, sua segunda individual, PRETÉRITO IMPERFEITO DE TERRITÓRIOS MÓVEIS foi premiada com o XI Prêmio Funarte Marc Ferrez de Fotografia, na categoria Pesquisa, Experimentação e Criação em Linguagem Fotográfica, tendo sido exposta em Porto Alegre (Galeria Xico Stockinger, abril 2011), Belém (Espaço Cultural Banco da Amazônia, outubro/novembro-2011) e São Paulo/SP (Projeto Physis Soma, Casa das Rosas, novembro de 2013 a fevereiro de 2014).
O projeto Arquivo 2.0 é sua terceira individual, e é resultado parcial da pesquisa de doutorado em Poéticas Visuais, desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais do Instituto de Artes da UFRGS, em Porto Alegre/RS. Recebeu o Prêmio de Artes Visuais Banco da Amazônia 2016, e foi exposto em Belém/PA, entre maio e junho de 2016.
                  flavyamutran@gmail.com
      



[1] Doutorado em Poéticas Visuais no Programa de Pós-Graduação no Instituto de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

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