terça-feira, 6 de maio de 2014

2009

Resumo de 2009

Conjunto (4) – André Venzon e Luiz Roque

De 11 de março a 12 de abril
Projeto de ocupação da Galeria – artistas convidados

Jason Evans – Strictly
De 16 de abril a 17 de maio
Exposição integrante do Projeto Black

Katia Costa - [MOVE_VERSÃO_2.0_PED]
De 21 de maio a 21 de junho

O Riso e a  Melancolia 
Vídeo Painter de Paul McCarthy  (Galeria Lunara)
+
Coletiva de fotografia – Galeria Iberê Camargo – trabalhos de Yves Klein, Thomas Hoepker, Terrence Koh, Martín Sastre, Guto Lacaz, Kátia Prates e Yoshua Okon,
De 25 de maio a 26 de julho

Mauricio Ianês – Inefável
De 7 de agosto a 2 de setembro
Exposição de intercâmbio com Galeria Vermelho de SP

Cecil Beaton - Portraits
De 25 de setembro a 8 de novembro
Exposição integrante do projeto O Discreto Charme

Thomas Demand – Berlim
De 14/11. a  17/01/2010

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Conjunto (4) – André Venzon e Luiz Roque

De 11 de março a 12 de abril
Projeto de ocupação da Galeria – artistas convidados


Abertura da exposição - em destaque trabalho
de Luiz Roque (Foto Rodrigo Uriart)
 A exposição Conjunto (4) reúne trabalhos dos artistas André Venzon e Luiz Roque.As exposições da série Conjunto surgiram a partir de uma iniciativa da Coordenação de Cinema, Vídeo e Fotografia da Secretaria Municipal da Cultura, no primeiro semestre de 2006 dentro de uma lógica de ocupação site-specific. 
Assim, dois períodos de 2006 foram reservados a cinco artistas – Adriane Vazques, Gustavo Jahn, Kátia Prates, Luiz Roque e Vilma Sonaglio – e à organizadora da mostra, Gabriela Motta. O resultado deste processo contínuo de trabalho e reflexão permanente recebeu o nome de Conjunto (1) e Conjunto (2). 
No ano seguinte, o coletivo foi inteiramente renovado, embora tenha sido convocado, mais uma vez, a se debruçar sobre as especificidades arquitetônicas da Galeria Lunara (localizada em torno de uma antiga tremonha, um grande funil por onde escoava o carvão na época em que a Usina do Gasômetro fornecia energia para a cidade) a produzir trabalhos articulados a partir de encontros sistemáticos. André Venzon, Marcelo Gobatto, Mariane Rotter, Tiago Giora e Fernando Bakos, os convocados para realizarem o Conjunto (3).
Nesta 4° edição do projeto, um artista da mostra Conjunto (1) – Luiz Roque – e outro da Conjunto (3) – André Venzon – debruçaram-se sobre a arquitetura da Galeria Lunara e produziram um diálogo conceitual cujo resultado foi a construção de um ambiente de características sacras, que evoca a atmosfera de uma cripta. Flertando com questões relativas à permanência da matéria humana, ao gênero e à morte, a dupla se serviu da fotografia e do neon para desenvolver uma instalação enigmática.  


André Venzon


BLACK - Jason Evans – Strictly
De 16 de abril a 17 de maio
Exposição integrante do Projeto Black


Intitulado simplesmente Black, este evento, compreendeu uma mostra reunindo 25 filmes e uma exposição fotográfica, e foi inspirado pela recente e histórica eleição de Barack Obama para a presidência dos Estados Unidos.
Segundo o Coordenador de Cinema, Vídeo e Fotografia da SMC, Bernardo de Souza, “o ineditismo e a bravura da escolha feita pelos norte-americanos nos levou a mapear a produção audiovisual e fotográfica desenvolvida sob o signo da black culture, voltando nossa atenção particularmente para a obra de artistas e cineastas originada no hemisfério norte, na busca de melhor compreender a experiência racial travada naquelas nações, cujos desdobramentos sociais se mostraram radicalmente diversos dos nossos”.
No projeto Black a fotografia foi representada pelo inglês Jason Evans, cujas obras em exibição na Galeria Lunara foram realizadas em 1991. Publicadas na revista i-D, as fotos de Evans mostram uma série de dândis negros na periferia de Londres. Transformadas em um emblemático registro do multiculturalismo londrino, as imagens hoje fazem parte da prestigiosa coleção da Tate Gallery, que as estão cedendo especialmente para a exposição na Lunara.
Jason Evans é colaborador de diversos jornais e revistas, como o The Guardian, o Independent, a Vogue e a The Face, entre outras. Suas imagens já foram expostas no MoMA NY, no Victoria & Albert Museum, na Tate Modern, entre outros espaços de arte. A obra do fotógrafo faz parte das coleções da British Library e das já citados Tate e V&A. Ele é professor da University for the Creative Arts, no Reino Unido, e seu trabalho já integrou diversas publicações das editoras Taschen e Phaidon.    


Katia Costa - [MOVE_VERSÃO_2.0_PED]

De 21 de maio a 21 de junho


A exposição de Katia Costa, intitulada [MOVE_VERSÃO_2.0_PED],  reúne montagens de imagens em P & B, formando quebra-cabeças onde o movimento e o gesto de montar, organizar e repensar as peças, formou mosaicos com novas imagens com características próprias e informações variadas.
As imagens foram obtidas através da captura de imagens de deslocamentos, com o objetivo de formar “linhas de composições geométricas”, narrativas que ilustram trajetórias fictícias, linhas e formas montadas, para formar um novo espaço.
Katia Costa é fotógrafa e artista plástica. Bacharel em Artes Plásticas, com ênfase em Fotografia, pela UFRGS e atualmente cursa Licenciatura em Artes Plásticas, na mesma instituição. Trabalha com a fotografia, instalação, escultura e gravura. Fundou o Atelier de Arte Plano B, onde desenvolve seus trabalhos.  Já realizou diversas exposições individuais e coletivas no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Bahia, Minas Gerais e Itália, tendo sido premiada em vários Salões, dentre eles: Prêmio Aquisição 18º Salão de Artes Plásticas Câmara Municipal de Porto Alegre, Prêmio aquisição no 7º Salão Nacional de Arte de Jataí, Go , indicada ao Prêmio Açorianos de Arte Visuais 2007, Prêmio Exposição no VII Concurso de Artes Plásticas Contemporâneas 2006, Goethe-Institut Porto Alegre, Vencedora Regional do 18º Salão Jovem Artista.


O Riso e a  Melancolia
Na Galeria Lunara: Projeção do vídeo Painter de Paul McCarthy
e na Galeria Iberê Camargo – trabalhos de Yves Klein, Thomas Hoepker, Terrence Koh, Martín Sastre, Guto Lacaz, Kátia Prates e Yoshua Okon,
De 25 de maio a 26 de julho

Variantes de um amplo espectro emocional, o riso e a melancolia respondem por estados de espírito e de ânimo aparentemente opostos, porém complementares. Não obstante as diferentes acepções destes termos no curso da História, eles permanecem tão emblemáticos quanto reveladores da experiência humana.

Considerada uma doença na Grécia Antiga, a melancolia deixou de ser uma moléstia no período romântico, quando se difundiu a ideia de que os indivíduos por ela afetados estariam a experimentar algo de profundamente enriquecedor para a alma humana.


Desde o século XX, entretanto, mais precisamente a partir das teorizações de Sigmund Freud, a melancolia foi comparada ao estado de luto, sem que, contudo, fosse constatada nela uma perda real, senão uma perda narcisista ou emocional.


O riso, por seu turno, consiste na expressão física motivada por diferentes naturezas de humor, tais quais a sátira ou a ironia, que estão intimamente relacionadas ao contexto sóciocultural de onde emergem e que as enseja. Quer na filosofia, quer na psicologia, o riso se estabelece como reação aos estímulos de ordem intelectual, configurando-se em um fenômeno fundamentalmente humano. De acordo com o filósofo francês Henri Bergson, caso o mundo fosse habitado por seres totalmente desprovidos de emoções, e exclusivamente movidos pela racionalidade, ainda assim haveria o riso, porque resultante de um processo mental que decorre de julgamentos morais. De maneira inversa, em um mundo dominado exclusivamente pelas emoções, o riso não seria possível, e o excesso de sentimentos nos envolveria numa atmosfera puramente melancólica.


A temática dessa mostra - o riso e a melancolia - partiu de nosso desejo de discutir esses dois extremos do humor em relação a seus papéis na história da arte. Há alguns séculos, a melancolia tem interessado às artes com algum destaque, embora diversamente facetada dependendo do momento histórico ou artístico que a explorou. Já o riso, surpreendentemente, ganhou pequena atenção no contexto da crítica de arte, algo que vem mudando na contemporaneidade com o surgimento de importantes publicações sobre o tema, e com o resgate de alguns textos clássicos sobre o assunto, como os dos supracitados Bergson e Freud.


Por tudo isso, é com muito entusiasmo que trazemos a público a exposição O Riso e a Melancolia, uma empreitada inédita para ambos, e à qual dedicamos bastante tempo e trabalho. Não apenas somos curadores de primeira viagem, como também não temos a pretensão de exaurir a temática, mas decidimos ir adiante com essa tarefa por estarmos confiantes de que nossas escolhas - as quais incluem alguns artistas nunca antes apresentados no Brasil - serão um deleite para o público das Galerias Lunara e Iberê Camargo, bem como da Sala P. F. Gastal.
A quem soar exagerada tal afirmação, convidamos a comprová-la assistindo aos vídeos dos latino-americanos Yoshua Okon e Martín Sastre, bem como do importantíssimo artista norte-americano Paul McCarthy. Este último terá a Galeria Lunara dedicada exclusivamente à apresentação de seu vídeo Painter, o qual faz uso de certa linguagem televisiva para debochar do mundo artístico e das razões que podem levar o artista a permanecer criando. Esses três trabalhos mostram como o riso pode ser útil na construção de uma crítica social e política, ao tempo em que a reflexão por eles provocada está embebida numa inegável melancolia.



Teremos a grande honra de exibir a emblemática fotografia Saut Dans le Vide, do francês Yves Klein, sem dúvida uma das obras de arte mais importantes do século XX: um ato suicida, representado com visível deleite na expressão do artista, de braços abertos em seu salto para o vazio. Vazio também abordado por Kátia Prates de maneira sublime em sua apresentação de um céu de azul intenso, cuja extraordinária beleza beira o absurdo.
Apresentaremos ainda os comentários fotográficos do paulista Guto Lacaz, os quais revelam o saudosismo inerente à atual passagem da tecnologia analógica para a digital, porém de maneira bem-humorada.



Impossibilitados de trazer a Porto Alegre uma obra do norte-americano Jeff Koons – nome definitivo para a discussão do humor na arte contemporânea –, decidimos exibir um documentário sobre sua trajetória artística. Seus trabalhos visualmente deslumbrantes remetem à melancolia da infância perdida e ao fascínio pelo estrelato não desprovido de ironia. Esse filme será exibido ao lado de uma performance de Terence Koh, cujas relações com o mercado de arte não deixam também de ser bem humoradas, quer seja pelas cifras astronômicas alcançadas por suas desconfortáveis obras, quer pela apresentação desavergonhada do sexo e de sua intensa vida privada.


Outro destaque dentro da mostra é o norte-americano William Wegman, que embora seja um nome capital quando se trata do humor na arte contemporânea, permanece pouco conhecido no país; seus vídeos de cães Weimaraners antropomorfizados retêm a tristeza do olhar canino, causando no espectador um sorriso melancólico.
Ausente dessa mostra, o humor da arte britânica nos anos 1990 deu a tônica ao debate acerca da produção artística contemporânea, a exemplo do que já havia sido feito pelo Dadaísmo no início do século XX. A ironia, quintessência da cultura inglesa, marcou aquela década que antecede o ataque terrorista às Torres Gêmeas, aqui representado em tons saturados pelo célebre fotógrafo da agência Magnum, Thomas Hoepker, que revestiu a tragédia de 11 de setembro de 2001 com matizes daquela fina ironia.



Se ao final do século XX o humor pareceu ser a chave para um mundo carente das perspectivas históricas modernistas, o início do século XXI, após o inevitável confronto com a orquestrada tragédia de dimensões épicas em Nova Iorque, recuperou ambos os registros como complementares e essenciais à percepção dos fenômenos contemporâneos.(Bernardo José de Souza e Mariana Xavier - 
Curadores)


OS ARTISTAS


YVES KLEIN

Nascido em 1928, na França, Klein viveu pouco mais de 34 anos, ao longo dos quais logrou desenvolver uma obra que hoje o situa entre os mais importantes artistas do século XX. Considerado por alguns como um Dadaísta tardio, ele é comumente visto como um enigmático precursor da arte contemporânea. Criou, em 1960, ao lado do crítico Pierre Restany e do amigo Arman Fernandez, o movimento Novo Realismo, quatro anos antes de sua morte, após o terceiro infarto consecutivo. 
A noção de vazio é central para a compreensão da obra de Klein, que se utilizou dos mais diversos suportes - escultura, pintura, música, performance e fotografia - para comunicar-se com o público, o qual deveria ser capaz de simultaneamente sentir e entender suas criações. 
A imagem em exposição na Galeria Iberê Camargo - Saut Dans le Vide - foi primeiramente publicada no jornal Dimanche, em 27 de novembro de 1960 -  na realidade uma espécie de livro de artista.


PAUL McCARTHY

Paul McCarthy nasceu em Salt Lake City, Utah, em 1945. O reconhecimento de seu trabalho veio de suas intensas performances e seus vídeos baseados em tabus, tais como o corpo, a sexualidade e os rituais de iniciação. A carreira de McCarthy também explora temas como família, infância e violência, ao mesmo tempo em que utiliza fluidos corporais, tinta, catchup e maionese para gerar críticas intrincadas e grotescas de ícones culturais. Seus trabalhos já foram exibidos por grandes instituições como o Whitney Museum, a Tate Modern e o MoMA NY.
O vídeo exibido nessa mostra, Painter, é uma ácida paródia do final da carreira do pintor Willem de Kooning, bem como do sistema das artes em geral. O pintor, vivido pelo próprio Paul McCarthy, debate-se em seu atelier com pincéis e tubos gigantes de tinta e cocô. O vídeo completa-se com aparições de uma galerista e colecionadores alemães, retratados com a cruel e gosmenta graça característica dos trabalhos do artista.


THOMAS HOEPKER

Estudou história da arte e arqueologia antes de se tornar fotojornalista, na década de 1960, cobrindo reportagens em todas as partes do mundo. Em 1964, a lendária agência de imagens Magnum, (da qual seria presidente entre 2003 e 2006) passou a distribuir seu trabalho. Foi câmera e produtor de documentários para a televisão alemã até mudar-se para Nova Iorque, em 1974, quando tornou-se correspondente da revista Stern, para a qual trabalharia mais tarde também como diretor de arte. Especializado em reportagem e conhecido por suas imagens coloridas e estilizadas, ele hoje vive em NY, onde dirige documentários para a TV e onde fotografou a emblemática imagem das Torres Gêmeas, vistas do Brooklyn, em 11 de setembro de 2001. Recebeu diversos prêmios prestigiosos como o Kulturpreis e exibiu em 2007 cerca de 230 fotografias suas, feitas em 50 anos de trabalho, numa grande exposição que itinerou pela Europa.

WILLIAM WEGMAN

Pela primeira vez no Brasil, serão exibidos os vídeos de William Wegman, artista norte-americano que começou sua carreira em meados dos anos 60 e é mais conhecido como “o artista dos cachorros Weimaraners”. Muito mais do que isso, Wegman é um nome essencial ao pensar-se em riso e melancolia na arte contemporânea, e a seleção aqui apresentada cobre mais de três décadas do trabalho do artista, que também trabalha com fotografias, pintura e desenho.
William Wegman teve uma retrospectiva de sua carreira em 2006 no Brooklin Museum of Art e teve seus trabalhos exibidos no Whitney Museum e no MoMA, também em Nova Iorque, bem como no Stedelijk Museum de Amsterdã e no Centre Pompidou, em Paris. Sua carreira iniciou-se com a exibição de seus trabalhos na 5ª Documenta de Kassel, em 1972, e na mostra Quando as atitudes tomam forma na Suíça em 1969.


MARTÍN SASTRE

Martín Sastre é um dos mais importantes artistas visuais latino-americanos. Seus divertidos vídeos combinam o universo da cultura pop, delírios futuristas e ficcionais, deboche ao mundo das artes e à política. Nascido em Montevideo em 1976, Martín exibiu seus vídeos em exposições individuais e também em Bienais como a Bienal de Busan, na Coreia do Sul (2008), Ushuaia, na Argentina (2007), Bienal da Imagem de Genebra (2006), Veneza (2005), São Paulo (2004), Havana (2003), Praga (2002) e Mercosul (2001). 
Em seus trabalhos, a América Latina vira uma superpotência mundial em um futuro nem tão distante; Lady Di está viva em uma favela de Montevideo; Nadia Comaneci inspira um jovem zumbi romeno chamado Pepsi; Michael Jackson toma chá com a avó de Martín; uma Hello Kitty freira encontra Madonna em Londres. No vídeo exibido aqui, KIM X LIZ, o presidente da Coreia do Norte Kim Jong II vive uma história de amor com Elisabeth Taylor.


YOSHUA OKON

Desde o final dos anos 90, o artista mexicano Yoshua Okon vem trabalhando com performances e vídeos, embora também explore outras formas de expressão artística. Seus trabalhos se situam no limite entre o documentário e a ficção, e procuram, de maneira bem-humorada, trazer à tona questões culturais, sociais ou políticas desconfortáveis. Seus trabalhos já foram exibidos na The Hayward, em Londres, no PS1 MoMA, de Nova Iorque, no Getty Center e estão na Coleção Jumex, do México. 
O vídeo Presenta, exibido na galeria Iberê Camargo, é um loop eterno de logotipos de empresas estatais mexicanas, ao estilo dos créditos iniciais dos longa-metragens latino-americanos  –  dependentes do financiamento público para sua realização. Ao mesmo tempo em que esperamos o filme que nunca começa, refletimos sobre todo o sistema de realização cinematográfica que tão bem conhecemos no âmbito da produção audiovisual brasileira.


GUTO LACAZ

Guto Lacaz já era artista multimídia antes mesmo dessa denominação entrar  em uso:  é performer, inventor, desenhista, ilustrador, designer, cenógrafo, editor de arte etc. Sua produção transita entre o design gráfico, a criação com objetos do cotidiano e a exploração das possibilidades tecnológicas na arte, sempre tratada com humor e ironia. O artista mostra-se extremamente coerente com a variedade de lugares e situações onde apresenta seus trabalhos: de galerias e museus a teatros, espaços públicos e a televisão.
Os dois trabalhos aqui exibidos são chamados por Guto de comentários fotográficos, olhares sobre a fotografia e a profunda transformação pela qual essa técnica passou nos últimos anos. O raio-x de uma paciente improvável e um aparato analógico que sustenta o digital tem, evidentemente, um caráter saudosista. O humor imbuído nesses trabalhos, entretanto, os traz de volta imediatamente à contemporaneidade.



KATIA PRATES

Realizou suas últimas individuais em 2006 com “Árvores, Paisagens, Horizontes” na Galeria dos Arcos/Usina do Gasômetro em Porto Alegre e em 2003, com fotografias da série “Paisagens”, no Centro Cultural São Paulo; anteriormente expôs no Museu de Arte RGS, Museu de Arte Contemporânea/RS e Funarte/RJ. Katia Prates é doutoranda em Poéticas Visuais pelo Instituto de Artes/UFRGS e tem especialização em arte e tecnologia na School of the Art Institute of Chicago. 
Nesta mostra, a artista apresenta sua particularíssima visão do vazio, fotografando de maneira sublime um céu de azul intenso, cuja extraordinária beleza beira o absurdo.


Mauricio Ianês – Inefável
Lunara recebe Galeria Vermelho
De 7 de agosto a 2 de setembro



Dando continuidade à parceria que vem desenvolvendo desde o ano de 2005 com a Galeria Vermelho, de São Paulo, a Coordenação de Cinema, Vídeo e Fotografia da Secretaria Municipal da Cultura de Porto Alegre apresentou a exposição do artista Maurício Ianês, na Galeria Lunara.
A exposição tem o título de Inefável e exibiu a videoinstalação de mesmo nome realizada especialmente para a Galeria Lunara durante a passagem do artista por Porto Alegre, em julho último. Concebida com o apoio do Coral do DMAE, a obra decompõe a palavra inefável em oito letras, que se transformam em uma espécie de mantra na voz simultânea de oito cantores registrados em vídeo, cujos rostos aparecem em oito telas-planas dispostas nas paredes da Galeria. Ianês é um artista multimídia que vem recebendo ampla atenção no cenário artístico contemporâneo, especialmente através de suas performances, mais sabidamente aquela em que ficou duas semanas vivendo no prédio da Bienal de São Paulo, inicialmente nu e sem comida, cobrindo-se e alimentando-se exclusivamente daquilo que lhe era dado pelos visitantes da mostra de arte mais importante do País.
Maurício Ianês já participou de residências artísticas em cidades como Paris e Viena, além de ter exposto na conceituada Whitechapel Gallery, em Londres, em 2007, bem como em galerias na Islândia, no País de Gales, na Nova Zelândia, entre outros países.



Cecil Beaton - Portraits
Projeto O Discreto Charme da Burguesia
De 25 de setembro a 8 de novembro

A representação da burguesia sempre interessou ao cinema e às artes em geral, desde os seus primórdios. Mas é especialmente nas décadas de 1960 e 1970 que as grandes obras sobre o tema serão produzidas, graças às demolidoras visões críticas de diretores europeus como Luís Buñuel, Luchino Visconti, Claude Chabrol, Joseph Losey, Pier Paolo Pasolini ou Federico Fellini. A presente mostra reúne 18 filmes, entre títulos clássicos e produções recentes, que se dedicam a perscrutar a condição burguesa ao longo do século XX, bem como os embates de classe por ela despertados.


Paralelamente à mostra de filmes, foi apresentada uma  exposição, na Galeria Lunara, do célebre fotógrafo britânico Cecil Beaton, figura emblemática do jet-set cultural de meados do século XX e um dos mais caros representantes da quintessência do estilo inglês. 
Morto em 1980, ele passou a vida a viajar, convivendo com artistas e dividindo seu tempo entre a criação de cenários e figurinos para cinema e teatro, a fotografia de moda para a revista Vogue e os retratos de celebridades. As obras em exibição na Galeria Lunara foram cedidas pela tradicional casa de leilões do Reino Unido, Sotheby’s, detentora do espólio do artista e templo do sofisticado consumo da alta burguesia.


Thomas Demand – Dailies
Projeto Berlim
De 14/11/2009 a  17/01/2010

A Coordenação de Cinema, Vídeo e Fotografia da Secretaria Municipal da Cultura de Porto Alegre, em parceria com o Instituto Goethe, apresentou o Projeto Berlim, que incluiu uma exposição do renomado artista alemão Thomas Demand, na Galeria Lunara e uma mostra de filmes na Sala P. F. Gastal. O evento marcou a passagem dos 20 anos da queda do Muro de Berlim, ocorrida em 9 de novembro de 1989, e o relevante papel desempenhado pela metrópole no cenário cultural contemporâneo.



Um dos mais conceituados artistas contemporâneos, com passagem pelos principais museus do mundo, Thomas Demand irá exibir um conjunto de obras inéditas pela primeira vez no Brasil. Demand tem sido apontado pela crítica internacional como autor de alguns dos trabalhos mais instigantes da arte contemporânea: “Sob a aparente placidez das obras de Thomas Demand percebe-se uma atmosfera de inquietação latente. Ao observador desavisado, e não familiarizado com o processo criativo do artista, resta a intuição como chave única para o ingresso nos ambientes frequentemente burocráticos e assépticos fotografados por ele. Situada em espaços intermediários, a obra de Demand logra suspender momentaneamente a realidade ao criar zonas neutras que desafiam a percepção do espectador à medida em que põem em xeque a atribuída correspondência entre a imagem fotográfica e o mundo real que ela supostamente retrata”.

Partindo de fotografias encontradas nos meios de comunicação de massa, não raro carregadas de matizes políticos (embaixadas, a Casa Branca, a cozinha clandestina de Sadham Hussein), ou de ambientes altamente familiares, de características universais (um céu estrelado, uma floresta), o artista se propõe a tarefa hercúlea de desenvolver maquetes em escala real, feitas de cartolina e papel, as quais reproduzem quase à perfeição as imagens originais. Superada esta etapa, ele retorna ao suporte fotográfico para registrar e perenizar esses espaços artificialmente construídos e só então levá-los a público em galerias e museus no formato bidimensional. Uma vez concluído o processo, via de regra os cenários são destruídos.

Na Galeria Lunara Demand mostrou a série inédita The Dailies, que apresenta características bastante distintas do conjunto comumente conhecido de sua obra. Além das imagens serem apresentadas em formato menor que de costume, mesmo porque reproduzem cenas cotidianas ou rotineiras, elas permitem uma maior empatia com o público e funcionam como blagues, flashes prosaicos do dia-a-dia. Segundo Bernardo José de Souza, “os espaços divisados pelo artista são literalmente naturezas mortas, cujos vestígios de vida se apresentam exclusivamente no plano metafísico”.



abaixo, entrevista concecida por Thomas Demand a Fabio Cypriano em out/2009
Leves, felizes e um pouco bobas
O artista alemão Thomas Demand escolheu Porto Alegre para apresentar sua nova série “Dailies”, um trabalho inédito e um tanto distinto de suas imagens mais conhecidas, em geral em grande escala, fotos de cenários construídos em papel que parecem reais. Pode ser a Casa Branca, na série “Presidency” (2008), uma floresta, como em “Clearing” (2003), exibida na Bienal de São Paulo, em 2004, ou simplesmente um banheiro, “Bathroom” (1997).
Como um ilusionista, Demand apresenta imagens que não parecem falsas, mas afinal numa era marcada pelo photoshop e por fotos digitais de simples manipulação, o real deixou de ser uma questão. Mesmo assim, quase arquetípicas ou mesmo ideais, essas imagens são tão corriqueiras como a própria realidade.
Um de seus trabalhos mais impressionantes foi “Grotte” (2006), a imagem de uma imensa caverna falsa, exposta na ilha de San Gorgio Maggiore, por ocasião da Bienal de Veneza, em 2007, em uma exposição individual organizada por Germano Celant, da Fundação Prada. Na exposição, via-se primeiro a imagem, em grandes dimensões (198 x 440 cm); depois uma sala repleta de cartões-postais e documentos sobre cavernas, para se chegar à última sala, a maquete de 36 toneladas que serviu de modelo para fotografia. O artista nascido em 1964, na cidade de Munique, revelou aí seu processo, mas, ao contrário de um mágico que quando revela seu truque faz com que ele não tenha mais graça, tornou aí seu trabalho ainda mais intrigante.
Atualmente, Demand apresenta uma retrospectiva de sua obra na Galeria Nacional, em Berlim, um dos mais belos prédios modernistas de Walter Gropius, onde possivelmente encerre um ciclo. Na entrevista a seguir, concedida especialmente por ocasião da mostra gaúcha, o artista diz que escolheu o Brasil, para sediar uma nova fase, que se inaugura com “Dailies”. Ele conta que buscou imagens “leves, felizes e um pouco bobas”, o que pode parecer um pouco ingênuo. Mas quando a arte nos deixa nesse estado, ela não nos torna mais humanos?
Fabio Cypriano, outubro de 2009

Suas fotos de maquetes que se parecem como se fossem lugares reais são o que melhor conhecemos. O que você fez antes, Como você começou a criá-las? Estudou fotografia?
Thomas Demand: De certa forma, sou um amador, sem nenhum tipo de treinamento em fotografia e nem me vejo como um. Estudei pintura e escultura e, por muitos anos, trabalhei apenas com coisas sem valor, papéis e objetos de vida curta a partir de materiais baratos. Eu sempre pensei que poderia fazer mais versões para estudo deles, se fosse o caso.


Em todos seus trabalhos que já vi, nunca há pessoas neles, o que nos faz focar sempre no aspecto arquitetônico de suas imagens. Esse é o centro de sua atenção? Por quê?

Demand: Eu trabalho com espaços que, espero, atraia o observador e sua imaginação. Creio que figuras humanas nesses locais iriam, basicamente, transformariam a imagem num momento anedótico.
“Presidency” deveria ser uma cópia fidedigna à Casa Branca? Ou você se preocupa em criar um mundo melhor em suas imagens?
Demand: Para mim, é mais parecido com um palco: uma caveira, um rosto enegrecido e uma fala. Todo mundo sabe que peça é essa: “Hamlet”, apesar do lugar, do tempo, do ator etc. Pense em todos os programas de TV, as caricaturas, os filmes com Harrison Ford... Todos eles são sempre sobre representação, não sobre como o lugar realmente é. Eu sei que você sabe e você sabe que nós sabemos.
Melhor lugar? Não, essa não é minha intenção. Eu não tenho uma missão, eu só faço trabalhos que desafiem minha inteligência e não me entediem. Felizmente, outros vêem isso da mesma forma e parece que eles vêem alguma coisa nesses trabalhos que não percebem em nenhum outro lugar dessa forma. Eu não tenho certeza se meu trabalho se insere na classificação “boa arte”, mas boa arte sempre me faz ver o mundo de um ângulo diferente, ou então, de repente, me tornar consciente do que vejo.
Em seus trabalhos, alguns espaços são reais, como a Casa Branca, na série “Presidency”, e outros ficcionais, certo? Você pode descrever o processo de escolha de um tema para ser transformado em imagem?
Demand: Todos eles são reais, pois eles estão à frente de minha câmera. “Presidency” foi um trabalho comissionado, mas a Sala Oval nunca teve esse aspecto. Eu misturei cinco versões diferentes em uma só: o carpete é Clinton, a cortina, do Bush pai, as coisas no armário, do Bush filho, e assim por diante. Não era para ser a imagem de um lugar exatamente como ele é, mas de um lugar que pode ser reconhecido.


Já que o mundo é tão cheio de coisas, porque criar imagens falsas com a fotografia? Você admitiria que, no final, você é mais um escultor que um fotógrafo?

Demand: Apenas para pagar imposto de renda eu tenho que declarar que tipo de artista eu sou, e eu não me preocupo em me categorizar de outra forma. A meu ver, eu crio imagens e a forma como eu as faço, espero, seja interessante. Como o pintor usa tinta a óleo e o escultor, gesso, eu utilizo papel e um aparato para fazer imagens.
As coisas se confundem também, e todas elas são temporárias, afinal. Assim, enquanto eu não produzo lixo venenoso, estou OK em trazer coisas para o mundo. O único problema é se eles atrapalham seu espaço, então você precisa dar um jeito de passar a volta deles.
Então, que tipo de artista você se declara quando paga impostos?
Demand: Escultor. É melhor para pagar impostos.
Por que mostrar a maquete de “Grotte" (Gruta), em Veneza, 2007?

Demand: Por que não? Se o processo é bom e sólido, você pode apresentá-lo uma vez, não? Você disse que se lembra dele e eu realmente acredito que isso é o melhor que poderia ocorrer. Eu visitei o ateliê do [Francis] Bacon, uma vez, e me surpreendi muito com o quanto eu aprendi fazendo isso. Pode-se se dizer que seria muito estúpido fazer isso, mas de fato não foi. Eu fiquei também muito satisfeito com o contexto: uma ilha, um festival, não ser um museu, e contar com três elementos em uma só instalação: a documentação, a imagem e o objeto que foi fotografado.



Seu trabalho na Bienal de São Paulo, em 2004, era bastante complexo, misturando imagem e vídeo. “Forest” (floresta), a fotografia, foi inspirada no parque Ibirapuera? Como foi criar esse trabalho?

Demand: Eu queria trabalhar com arquitetura, o que é sempre uma motivação para mim. O que foram as estruturas do Niemeyer, pelas quais se observa o parque, mas que ainda são chão e teto, muito panorâmicas, o que se transforma num espetáculo. Eu pensei que poderia refletir isso nas paredes externas da construção que fizemos dentro do pavilhão. Mesmo essa estrutura que criamos parecia que fazia parte do espaço _que foi o único oferecido pelo curador, além do banheiro masculino. Então, misturamos elementos do prédio junto com uma nova parte e acrescentamos a sala de cinema. Eu entendi todo esse complexo como um pavilhão que construí lá. Não foi uma mostra temática, eu reuni seis trabalhos que poderiam estar juntos, mas eu não busquei passar uma mensagem coerente com essa combinação.
Quem constrói os modelos que você usa? O que você faz com eles depois de fotografá-los?
Demand: Sou eu mesmo quem os faz, eles tem tamanho natural e eu os jogo todos no lixo depois que os usei.
Sua nova série “Dailies” é menos suntuosa do que seu trabalho anterior, apesar de “Bathroom”, de 1997, que se parece com ela. Por que se tornar tão introspectivo agora?

Demand: Eu queria trabalhar com imagens que carregam sua própria razão de existência, não porque elas contam a história de um acidente que não é visível na imagem, ela mesma. Mas de fato pertencem à mesma família do trabalho que você mencionou, talvez parentes distantes, pois eu continuo buscando pegar e recriar um momento no (meu) tempo. Esse tempo não é memória pública, mas a minha própria. No entanto, no fundo eu não acredito que haja tanta diferença entre os indivíduos. Ao mesmo tempo, é obviamente apenas aquilo que você vê, no sentido que não é nem simbólico, nem surreal ou moralizante. É apenas aquele pequeno descobrimento naquele momento que se foi como qualquer outro momento mais para frente. Eu gosto muito do fato que todos os celulares têm câmeras agora e eu as uso muito, então em determinado momento eu queria utilizar todo o material que coletei ao longo dos anos. Creio que os outros trabalhos são como romances enquanto esses são poesias – talvez poemas com rimas, mas você pode pegar a imagem.



Normalmente, suas fotos, talvez porque não retratem pessoas, pareçam um pouco melancólicas, mas “Dailies” são bastante felizes e engraçadas, como aquela com o banquinho e uma flor estampada sobre ele. Esse é um momento feliz em sua vida? Ou a arte deveria ser mais feliz agora para “compensar a tristeza do mundo”, como dizia Pina Bausch?

Demand: Eu pensei que elas deveriam ser leves, felizes e um pouco bobas também. E rápidas de serem feitas, para não se pensar: quanto tempo isso levou para ser feito. Quando se faz um filme longa-metragem, todo fim do dia observa-se o que foi filmado durante o dia e isso se chama “Dailies”: como a colheita, mas não o filme ainda. Esse projeto ainda está relacionado com outros trabalhos, mas para mim, o Brasil é um lugar felizes, um começo fresco, e essa exposição cabe bem aí. Estou tendo uma grande retrospectiva em Berlim ao mesmo tempo, que se chama “National Gallery”, e você pode imaginar que a natureza dessa mostra é muito diferente da que vou realizar em Porto Alegre. Ambas ocorrem de forma paralela e eu gosto muito dessa oportunidade.

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