sexta-feira, 3 de maio de 2013

A FLORESTA FANTÁSTICA DE ROGÉRIO LIVI EM EXPOSIÇÃO NA GALERIA LUNARA


 A Coordenação de Cinema, Vídeo e Fotografia da Secretaria da Cultura de Porto Alegre inaugura em 09 de maio, às 19h, a exposição Floresta Fantástica, de Rogério Livi, que ocupará a Galeria Lunara (5º andar da Usina do Gasômetro) até 09 de junho. 

Floresta Fantástica é parte de um projeto maior, a procura de pinturas ou desenhos feitos exclusivamente pelas forças e materiais da natureza. Livi relata que fotografou essas imagens, instantes de “paisagens” em contínua mutação, em caminhada numa praia distante. O fenômeno inusitado que as gera resulta das interações do mangue e do trabalho das ondas com a areia, a qual serve de suporte para esses desenhos. Os pigmentos dominantes provém das infiltrações do material orgânico que se desloca com as flutuações das marés.

Segundo o artista, a Galeria Lunara parece ter sido feita especialmente para este projeto, pois, além das fotografias, permite a projeção dos pequenos vídeos em loop, nos quais capturou alguns momentos daquela atividade do mar, da areia e da infiltração do mangue.

Natural de Cachoeira do Sul, Rogério Livi é Doutor em Física, pela UFRGS, onde foi professor e pesquisador. Desde 1998 cursa oficinas no Atelier Livre da Prefeitura e dedica-se, principalmente, à fotografia, escultura, desenho e história da arte.

Desde 2005, Rogério Livi tem apresentado seu trabalho em exposições coletivas e individuais, tendo recebido vários prêmios, dentre eles, Artista Revelação (Açorianos de Artes Plásticas de 2008) e Artista Revelação (RBS Cultura, 2009).

Abaixo, texto de Paula Ramos, escrito especialmente para a exposição:

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Os desenhos encontrados de Rogério Livi


“Olhe para certos muros manchados de umidade ou para pedras de cores irregulares. Se você usar algumas lembranças, poderá ver nelas paisagens adornadas com montanhas, ruínas, rochas, florestas, grandes planícies, colinas e vales em grande variedade. Olhe novamente e verá batalhas e estranhas figuras numa ação violenta, expressões de faces, roupas e uma infinidade de coisas.” Leonardo da Vinci




Ao escrever as notas que dariam origem ao livro conhecido como Tratado da Pintura, Leonardo da Vinci (1452–1519) recomendava que os artistas exercitassem a imaginação apreciando manchas e texturas em velhos muros. Seus apontamentos, voltados ao processo criativo do pintor, sinalizam algo fundamental também ao espectador: a capacidade de observar, de reconhecer e de imaginar. Tal consciência, da imagem que engendra novas imagens, estimulou diversos artistas ao longo dos séculos, de Alexander Cozens (1717–1786) a Vera Chaves Barcellos (1935), e serviu de mote ao grande historiador da arte Ernst Gombrich (1909–2001). Em um dos textos mais instigantes de Arte e Ilusão, Gombrich discorre sobre a faculdade humana de projeção, que se manifesta, por exemplo, quando identificamos nas nuvens formas de coelhos, cavalos, trens. Rogério Livi, com sua Floresta Fantástica, aborda o mesmo tema, porém de modo distinto. Isso porque ele é, primeiramente, o espectador embevecido e, na sequência, o artista proponente do que denomina “desenhos encontrados”.

Caminhando por uma praia do Nordeste brasileiro, Rogério se deparou com estranhas formações que despontavam, discretamente, à beira mar. Sacou a máquina fotográfica do bolso e registrou, com o cuidado de excluir elementos desviantes, o que lhe parecia uma deslumbrante floresta. Nela predominam troncos encurvados e esguios, copas diminutas e desfolhadas, as cores rebaixadas de uma mata outonal, a sugestão de trilhas na caprichosa ilusão da terceira dimensão... Misteriosos, esses “desenhos” são, na sua estrutura primordial, obras da natureza: eles resultam da confluência da água sedimentosa do mangue com a água salgada do mar, em escala diminuta. Estaríamos diante de mais um invulgar fenômeno físico-químico, se o olhar atento e sensível do artista não tivesse registrado, em meio ao rápido movimento das ondas e ao deslizar contínuo das areias, as linhas que lhe sugeriam paisagens tão quiméricas, o prodigioso artifício em meio à natureza.

As fotografias/desenhos de Floresta Fantástica apontam a sutil articulação de dois domínios: o da ciência, com sua busca pela compreensão racional dos fatos, e o da arte, com sua interpretação poética dos mesmos fatos. Não é de admirar que Rogério tenha circulação franca nas duas áreas. Respeitado pesquisador de Física, o Professor Titular aposentado da UFRGS sempre teve fascínio pela imagem e, sobretudo, pelos arranjos mínimos da matéria, que examinava através de microscopia eletrônica. Gostava, igualmente, de analisar marcas e vestígios na natureza, reconstruindo suas possíveis origens. Assim, quando iniciou seu percurso no campo da arte, estendeu a seus trabalhos essa experiência, explorando genuinamente aspectos como equilíbrio, suporte, movimento, bem como o caráter indicial da imagem, que ele enxerga no e através dotempo. O artista tem consciência de que seus desenhos – sejam eles provocados pelo vigoroso choque entre bolhas de sabão e papel; derivados do processo de infiltração do mangue na areia da praia; ou estruturados nas constelações sugeridas pelos galhos de árvores que coleta – são decorrência de várias camadas de tempo: o tempo da matéria, da conformação e da dissipação e o tempo que confere maturidade e segurança ao olhar, permitindo-lhe a surpresa e o encantamento da descoberta, seja na esfera da ciência ou da arte.

Rogério Livi integra o grupo de artistas para o qual observar o mundo sensível com desvelo, como preconizado por Leonardo da Vinci, é a base da criação. Seu exercício substancial reside, portanto, em permitir-se olhar, recolher e propor novas relações. Daí a importância dos títulos em suas obras. Eles jamais são fortuitos, agindo como delicados catalisadores no processo associativo e simbólico provocado pelas imagens. Com Floresta Fantástica, Rogério nos convida a percorrer esse ambiente onírico e de fantasia, descortinado num final de tarde de inverno à beira da praia. Para os que cresceram lendo as histórias dos Irmãos Grimm, trata-se de um autêntico cenário de conto de fadas.
Paula Ramos
Crítica de arte, professora-pesquisadora do Instituto de Artes da UFRGS
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Floresta Fantástica
Rogério Livi
Galeria Lunara
(5º andar da Usina do Gasômetro)
Abertura dia 09 de maio, às 19h
Visitação até 09 de junho de 2013
de terças a domingos -  das 9 às 21h





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