quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Conversa com Thomas Demand dia 14, às 15 h - na Av. Independencia , 745

O artista Thomas Demand, que está em Porto Alegre para participar do coquetel de abertura de de sua exposição na Galeria Lunara dia 14 às 19h, participará de uma conversa aberta ao público no mesmo dia 14, às 15h, na Av. Independência, 745.


sexta-feira, 6 de novembro de 2009

A Coordenação de Cinema, Vídeo e Fotografia da Secretaria Municipal da Cultura de Porto Alegre, em parceria com o Instituto Goethe, inaugura na próxima semana na Usina do Gasômetro o Projeto Berlim, que inclui uma exposição do renomado artista alemão Thomas Demand, na Galeria Lunara (com coquetel de abertura no sábado, 14 de novembro, às 19h, com a presença do artista) e uma mostra de filmes na Sala P. F. Gastal (a partir de terça-feira, dia 10 de novembro). O evento marca a passagem dos 20 anos da queda do Muro de Berlim, ocorrida em 9 de novembro de 1989, e o relevante papel desempenhado pela metrópole no cenário cultural contemporâneo.

MOSTRA DE FILMES

A mostra de filmes programada pelo Projeto Berlim apresenta uma seleção de títulos marcantes ambientados na cidade alemã, um cenário recorrente ao longo da história do cinema, desde os seus primórdios, atraindo a atenção de diretores de distintas nacionalidades. A mostra reúne 15 títulos realizados em períodos variados: de Berlim, Sinfonia de uma Metrópole (1927), a clássica obra de vanguarda dirigida por Walter Ruttmann ainda no cinema mudo, passando por produções rodadas nas suas ruínas logo após o final da Segunda Guerra Mundial ou ainda pelas visões da cidade dividida pelo muro nos anos da Guerra Fria, até chegar à década de 1990, com obras ambientadas numa Berlim já reunificada. Uma seleção que forma um painel multifacetado da metrópole mais fascinante do século XX.




THOMAS DEMAND

Um dos mais conceituados artistas contemporâneos, com passagem pelos principais museus do mundo, Thomas Demand irá exibir um conjunto de obras inéditas pela primeira vez no Brasil. Segundo o Coordenador de Cinema, Vídeo e Fotografia da SMC, Bernardo José de Souza, a
acontecimento de extraordinária importância na vida cultural da cidade, já que este alemão, residepresença de Demand em Porto Alegre é umnte em Berlim, tem sido apontado pela crítica internacional como autor de alguns dos trabalhos mais instigantes da arte contemporânea: “Sob a aparente placidez das obras de Thomas Demand percebe-se uma atmosfera de inquietação latente. Ao observador desavisado, e não familiarizado com o processo criativo do artista, resta a intuição como chave única para o ingresso nos ambientes frequentemente burocráticos e assépticos fotografados por ele. Situada em espaços intermediários, a obra de Demand logra suspender momentaneamente a realidade ao criar zonas neutras que desafiam a percepção do espectador à medida em que põem em xeque a atribuída correspondência entre a imagem fotográfica e o mundo real que ela supostamente retrata”.

Partindo de fotografias encontradas nos meios de comunicação de massa, não raro carregadas de matizes políticos (embaixadas, a Casa Branca, a cozinha clandestina de Sadham Hussein), ou de ambientes altamente familiares, de características universais (um céu estrelado, uma floresta), o artista se propõe a tarefa hercúlea de desenvolver maquetes em escala real, feitas de cartolina e papel, as quais reproduzem quase à perfeição as imagens originais. Superada esta etapa, ele retorna ao suporte fotográfico para registrar e perenizar esses espaços artificialmente construídos e só então levá-los a público em galerias e museus no formato bidimensional. Uma vez concluído o processo, via de regra os cenários são destruídos.

Na Galeria Lunara, de 14 de novembro de 2009 a 17 de janeiro de 2010, Demand irá mostrar a série inédita The Dailies, que apresenta características bastante distintas do conjunto comumente conhecido de sua obra. Além das imagens serem apresentadas em formato menor que de costume, mesmo porque reproduzem cenas cotidianas ou rotineiras, elas permitem uma maior empatia com o público e funcionam como blagues, flashes prosaicos do dia-a-dia. Ainda, segundo Bernardo José de Souza, “os espaços divisados pelo artista são literalmente naturezas mortas, cujos vestígios de vida se apresentam exclusivamente no plano metafísico”.

abaixo, entrevista concecida por Thomas Demand a Fabio Cypriano em out/2009

Leves, felizes e um pouco bobas

O artista alemão Thomas Demand escolheu Porto Alegre para apresentar sua nova série “Dailies”, um trabalho inédito e um tanto distinto de suas imagens mais conhecidas, em geral em grande escala, fotos de cenários construídos em papel que parecem reais. Pode ser a Casa Branca, na série “Presidency” (2008), uma floresta, como em “Clearing” (2003), exibida na Bienal de São Paulo, em 2004, ou simplesmente um banheiro, “Bathroom” (1997).

Como um ilusionista, Demand apresenta imagens que não parecem falsas, mas afinal numa era marcada pelo photoshop e por fotos digitais de simples manipulação, o real deixou de ser uma questão. Mesmo assim, quase arquetípicas ou mesmo ideais, essas imagens são tão corriqueiras como a própria realidade.

Um de seus trabalhos mais impressionantes foi “Grotte” (2006), a imagem de uma imensa caverna falsa, exposta na ilha de San Gorgio Maggiore, por ocasião da Bienal de Veneza, em 2007, em uma exposição individual organizada por Germano Celant, da Fundação Prada. Na exposição, via-se primeiro a imagem, em grandes dimensões (198 x 440 cm); depois uma sala repleta de cartões-postais e documentos sobre cavernas, para se chegar à última sala, a maquete de 36 toneladas que serviu de modelo para fotografia. O artista nascido em 1964, na cidade de Munique, revelou aí seu processo, mas, ao contrário de um mágico que quando revela seu truque faz com que ele não tenha mais graça, tornou aí seu trabalho ainda mais intrigante.

Atualmente, Demand apresenta uma retrospectiva de sua obra na Galeria Nacional, em Berlim, um dos mais belos prédios modernistas de Walter Gropius, onde possivelmente encerre um ciclo. Na entrevista a seguir, concedida especialmente por ocasião da mostra gaúcha, o artista diz que escolheu o Brasil, para sediar uma nova fase, que se inaugura com “Dailies”. Ele conta que buscou imagens “leves, felizes e um pouco bobas”, o que pode parecer um pouco ingênuo. Mas quando a arte nos deixa nesse estado, ela não nos torna mais humanos?

Fabio Cypriano, outubro de 2009

Suas fotos de maquetes que se parecem como se fossem lugares reais são o que melhor conhecemos. O que você fez antes, Como você começou a criá-las? Estudou fotografia?

Thomas Demand: De certa forma, sou um amador, sem nenhum tipo de treinamento em fotografia e nem me vejo como um. Estudei pintura e escultura e, por muitos anos, trabalhei apenas com coisas sem valor, papéis e objetos de vida curta a partir de materiais baratos. Eu sempre pensei que poderia fazer mais versões para estudo deles, se fosse o caso.


Em todos seus trabalhos que já vi, nunca há pessoas neles, o que nos faz focar sempre no aspecto arquitetônico de suas imagens. Esse é o centro de sua atenção? Por quê?

Demand: Eu trabalho com espaços que, espero, atraia o observador e sua imaginação. Creio que figuras humanas nesses locais iriam, basicamente, transformariam a imagem num momento anedótico.

“Presidency” deveria ser uma cópia fidedigna à Casa Branca? Ou você se preocupa em criar um mundo melhor em suas imagens?

Demand: Para mim, é mais parecido com um palco: uma caveira, um rosto enegrecido e uma fala. Todo mundo sabe que peça é essa: “Hamlet”, apesar do lugar, do tempo, do ator etc. Pense em todos os programas de TV, as caricaturas, os filmes com Harrison Ford... Todos eles são sempre sobre representação, não sobre como o lugar realmente é. Eu sei que você sabe e você sabe que nós sabemos.

Melhor lugar? Não, essa não é minha intenção. Eu não tenho uma missão, eu só faço trabalhos que desafiem minha inteligência e não me entediem. Felizmente, outros vêem isso da mesma forma e parece que eles vêem alguma coisa nesses trabalhos que não percebem em nenhum outro lugar dessa forma. Eu não tenho certeza se meu trabalho se insere na classificação “boa arte”, mas boa arte sempre me faz ver o mundo de um ângulo diferente, ou então, de repente, me tornar consciente do que vejo.

Em seus trabalhos, alguns espaços são reais, como a Casa Branca, na série “Presidency”, e outros ficcionais, certo? Você pode descrever o processo de escolha de um tema para ser transformado em imagem?

Demand: Todos eles são reais, pois eles estão à frente de minha câmera. “Presidency” foi um trabalho comissionado, mas a Sala Oval nunca teve esse aspecto. Eu misturei cinco versões diferentes em uma só: o carpete é Clinton, a cortina, do Bush pai, as coisas no armário, do Bush filho, e assim por diante. Não era para ser a imagem de um lugar exatamente como ele é, mas de um lugar que pode ser reconhecido.


Já que o mundo é tão cheio de coisas, porque criar imagens falsas com a fotografia? Você admitiria que, no final, você é mais um escultor que um fotógrafo?

Demand: Apenas para pagar imposto de renda eu tenho que declarar que tipo de artista eu sou, e eu não me preocupo em me categorizar de outra forma. A meu ver, eu crio imagens e a forma como eu as faço, espero, seja interessante. Como o pintor usa tinta a óleo e o escultor, gesso, eu utilizo papel e um aparato para fazer imagens.

As coisas se confundem também, e todas elas são temporárias, afinal. Assim, enquanto eu não produzo lixo venenoso, estou OK em trazer coisas para o mundo. O único problema é se eles atrapalham seu espaço, então você precisa dar um jeito de passar a volta deles.

Então, que tipo de artista você se declara quando paga impostos?

Demand: Escultor. É melhor para pagar impostos.

Por que mostrar a maquete de “Grotte" (Gruta), em Veneza, 2007?
Demand:
Por que não? Se o processo é bom e sólido, você pode apresentá-lo uma vez, não? Você disse que se lembra dele e eu realmente acredito que isso é o melhor que poderia ocorrer. Eu visitei o ateliê do [Francis] Bacon, uma vez, e me surpreendi muito com o quanto eu aprendi fazendo isso. Pode-se se dizer que seria muito estúpido fazer isso, mas de fato não foi. Eu fiquei também muito satisfeito com o contexto: uma ilha, um festival, não ser um museu, e contar com três elementos em uma só instalação: a documentação, a imagem e o objeto que foi fotografado.


Seu trabalho na Bienal de São Paulo, em 2004, era bastante complexo, misturando imagem e vídeo. “Forest” (floresta), a fotografia, foi inspirada no parque Ibirapuera? Como foi criar esse trabalho?

Demand: Eu queria trabalhar com arquitetura, o que é sempre uma motivação para mim. O que foram as estruturas do Niemeyer, pelas quais se observa o parque, mas que ainda são chão e teto, muito panorâmicas, o que se transforma num espetáculo. Eu pensei que poderia refletir isso nas paredes externas da construção que fizemos dentro do pavilhão. Mesmo essa estrutura que criamos parecia que fazia parte do espaço _que foi o único oferecido pelo curador, além do banheiro masculino. Então, misturamos elementos do prédio junto com uma nova parte e acrescentamos a sala de cinema. Eu entendi todo esse complexo como um pavilhão que construí lá. Não foi uma mostra temática, eu reuni seis trabalhos que poderiam estar juntos, mas eu não busquei passar uma mensagem coerente com essa combinação.

Quem constrói os modelos que você usa? O que você faz com eles depois de fotografá-los?

Demand: Sou eu mesmo quem os faz, eles tem tamanho natural e eu os jogo todos no lixo depois que os usei.

Sua nova série “Dailies” é menos suntuosa do que seu trabalho anterior, apesar de “Bathroom”, de 1997, que se parece com ela. Por que se tornar tão introspectivo agora?
Demand:
Eu queria trabalhar com imagens que carregam sua própria razão de existência, não porque elas contam a história de um acidente que não é visível na imagem, ela mesma. Mas de fato pertencem à mesma família do trabalho que você mencionou, talvez parentes distantes, pois eu continuo buscando pegar e recriar um momento no (meu) tempo. Esse tempo não é memória pública, mas a minha própria. No entanto, no fundo eu não acredito que haja tanta diferença entre os indivíduos. Ao mesmo tempo, é obviamente apenas aquilo que você vê, no sentido que não é nem simbólico, nem surreal ou moralizante. É apenas aquele pequeno descobrimento naquele momento que se foi como qualquer outro momento mais para frente. Eu gosto muito do fato que todos os celulares têm câmeras agora e eu as uso muito, então em determinado momento eu queria utilizar todo o material que coletei ao longo dos anos. Creio que os outros trabalhos são como romances enquanto esses são poesias – talvez poemas com rimas, mas você pode pegar a imagem.


Normalmente, suas fotos, talvez porque não retratem pessoas, pareçam um pouco melancólicas, mas “Dailies” são bastante felizes e engraçadas, como aquela com o banquinho e uma flor estampada sobre ele. Esse é um momento feliz em sua vida? Ou a arte deveria ser mais feliz agora para “compensar a tristeza do mundo”, como dizia Pina Bausch?

Demand: Eu pensei que elas deveriam ser leves, felizes e um pouco bobas também. E rápidas de serem feitas, para não se pensar: quanto tempo isso levou para ser feito. Quando se faz um filme longa-metragem, todo fim do dia observa-se o que foi filmado durante o dia e isso se chama “Dailies”: como a colheita, mas não o filme ainda. Esse projeto ainda está relacionado com outros trabalhos, mas para mim, o Brasil é um lugar felizes, um começo fresco, e essa exposição cabe bem aí. Estou tendo uma grande retrospectiva em Berlim ao mesmo tempo, que se chama “National Gallery”, e você pode imaginar que a natureza dessa mostra é muito diferente da que vou realizar em Porto Alegre. Ambas ocorrem de forma paralela e eu gosto muito dessa oportunidade.

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Thomas Demand

Sob a aparente placidez das obras de Thomas Demand percebe-se uma atmosfera de inquietação latente. Ao observador desavisado, e não familiarizado com o processo criativo do artista, resta a intuição como chave única para o ingresso nos ambientes frequentemente burocráticos e assépticos fotografados por este alemão, residente em Berlim, autor de alguns dos trabalhos mais intrigantes da arte contemporânea.
Situada em espaços intermediários, a obra de Demand logra suspender momentaneamente a realidade ao criar zonas neutras que desafiam a percepção do espectador à medida em que põem em xeque a atribuída correspondência entre a imagem fotográfica e o mundo real que ela supostamente retrata.
Partindo de fotografias encontradas nos meios de comunicação de massa, não raro carregadas de matizes políticos (embaixadas, a Casa Branca, a cozinha clandestina de Sadham Hussein), ou de ambientes altamente familiares, de características universais (um céu estrelado, uma floresta), o artista se propõe a tarefa hercúlea de desenvolver maquetes em escala real, feitas de cartolina e papel, as quais reproduzem quase à perfeição as imagens originais. Superada esta etapa, ele retorna ao suporte fotográfico para registrar e perenizar esses espaços artificialmente construídos e só então levá-los a público em galerias e museus no formato bidimensional. Uma vez concluído o processo, via de regra os cenários são destruídos.
Ao longo da última década, Demand consagrou-se como singular artista contemporâneo ao valer-se de processos criativos de técnicas mistas, que vão da mencionada confecção de maquetes (algumas delas já vistas em espaços expositivos, exceção à regra) ao registro fotográfico, passando inclusive pelo cinema. Neste último caso, ele produz a animação de seus cenários (uma escada rolante, um túnel rodoviário à semelhança daquele onde morreu Lady Di, em Paris) a 24 quadros por segundo, levando ao extremo sua busca por vestígios de vida em espaços inanimados. Embora escultor de formação, o artista se revela profundo conhecedor da técnica fotográfica ao fazer sofisticado uso da iluminação que lança sobre suas maquetes, indispensável à aura de realidade que emana de suas obras.
Para além do questionamento, ora político ora semiótico, da imagem fotográfica, e do virtuosismo do artista – capaz de enganar os sentidos do espectador apressado, tamanha a verossimilhança de suas obras –, nos trabalhos de Demand repousa uma expectativa de ação fadada à inércia, uma promessa narrativa apenas possível se artificialmente/mentalmente desenvolvida. Inabitados – jamais se vê figura humana em seus trabalhos –, os espaços divisados pelo artista são literalmente naturezas mortas, cujos vestígios de vida se apresentam exclusivamente no plano metafísico.
The Dailies, a exposição inédita que a Prefeitura de Porto Alegre tem a honra de receber em primeiríssima mão, apresenta características bastante distintas do conjunto comumente conhecido da obra de Demand. Além das imagens serem apresentadas em formato menor que de costume, mesmo porque reproduzem cenas cotidianas ou rotineiras, elas permitem uma maior empatia com o público e funcionam como blagues, flashes prosaicos do dia-a-dia.
Por fim, gostaria de agradecer imensamente a generosidade com que o artista recebeu este convite, tornando possível o contato real do público porto-alegrense com sua instigante obra. Não poderia aqui deixar de mencionar o apoio fundamental do Instituto Goethe, no nome de seus diretores Alfons Hug e ??? Sauer, parceiro em tantas iniciativas desta Prefeitura, que foi sensível à importância do presente projeto e tanto nos ajudou a torná-lo viável.

Bernardo José de Souza
Coordenador de Cinema, Vídeo e Fotografia
Secretaria Municipal de Cultura
Prefeitura de Porto Alegre